quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Strip-Tease | Martha Medeiros



Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.
Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.
Primeiro tirou a máscara: 'Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto'.
Então ela desfez-se da arrogância: 'Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história.'
Era o pudor sendo desabotoado: 'Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou'.
Retirava o medo: 'Eu não sou melhor ou pior do que 
ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei'.
Por fim, a última peça caía, deixando-a nua
'Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui'.
E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca."























P.S. Se passar por uma situação parecidadeclare-se! Não tenha medo de expor seus sentimentos. O amor não pode ser vencido pelo medo. E, se a pessoa não corresponder, tenha paciência. A vida vai trazer para sua vida o que for melhor para você.

"Os ventos que às vezes tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar…"


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O Pequeno Príncipe | um clássico da literatura universal


Entenda o livro:


A obra O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupéry, traz em seu corpo alguns temas universais. Em princípio, é um texto que pode parecer infantil, mas, na verdade, é próprio não só para crianças como também para adultos, pois as mensagens que carrega nas entrelinhas são lições de amor, amizade e pureza, além de críticas à maneira de como os adultos enxergam as coisas e as pessoas ao seu redor.

O texto fala sobre um aviador que é desencorajado a desenhar quando ainda era criança e que, em meio ao deserto, encontra uma figura extraordinária. Começa, então, a fabulosa história sobre o Pequeno Príncipe, um menino que mora em um planeta muito pequeno e que tem somente uma flor como companhia. Ela é muito vaidosa, mandona e fala demais. Cansado de sua vaidade, um dia ele resolve partir em busca de respostas e faz uma jornada por seis planetas (até chegar à Terra). Cada planeta é habitado por apenas uma pessoa.

O primeiro planeta é habitado por um rei que gosta muito de dar ordens e de ser obedecido. O problema é que ele só ordena aquilo que é possível acontecer como, por exemplo, mandar o sol se pôr somente na hora natural desse acontecimento. Ele representa aquela pessoa que vive só de aparências, que deseja mostrar aos outros aquilo que não é. Também, aquela que é autoritária e gosta de se sentir importante.

Quem habita o segundo planeta é um homem muito vaidoso que adora ser aclamado; não escuta críticas, só elogios. Ele representa a vaidade do ser humano. Não a vaidade natural, mas aquela que se torna mais importante do que tudo na vida.

O terceiro planeta é habitado por um bêbado que bebe para esquecer a vergonha de beber. Ele tem consciência de sua desgraça, porém, não faz nada para mudar. Representa a pessoa fraca, que não tem forças para lutar contra aquilo que lhe abate e acha mais fácil atirar-se ao problema do que lutar para superá-lo.

No quarto planeta, há um empresário que só está preocupado com os números, quer possuir tudo, até as estrelas. É tão ocupado que não tem tempo sequer para acender o cigarro apagado em sua boca. Ele representa a ganância do ser humano, a preocupação em ter, em possuir.

No quinto planeta, há um acendedor de lampião. De dia ele apaga o lampião e à noite ele acende. Apesar de ser uma ocupação útil, é ruim, pois o acendedor não tem tempo nem para dormir, porque os dias se passam tão rapidamente que, assim que apaga o lampião, já tem de acendê-lo novamente. Ele representa as pessoas que, mesmo sendo boas, só trabalham e não têm tempo para mais nada, não desfrutam o que mais a vida tem a lhes oferecer.

O sexto planeta é o maior de todos os outros já visitados. É habitado por um geógrafo que sabe tudo sobre mares, rios, cidades, montanhas e desertos, e onde exatamente eles se encontram, mas que nunca andou pelo seu planeta para vê-los, explorá-los e conhecê-los pessoalmente. Fica o tempo inteiro sentado em sua mesa estudando. Ele representa as pessoas que não agem, são apenas teóricas; gostam de ter razão e de saber muito, mas nada fazem de prático; ficam inertes, esperando a vida passar.

Dando continuidade às críticas feitas aos tipos humanos na obra, certamente não poderiam ficar de fora aqueles que o Pequeno Príncipe encontrou na Terra, o sétimo planeta visitado. O capítulo XVI, que corresponde à chegada do Pequeno Príncipe ao nosso planeta, inicia com uma afirmação que diz que a Terra não é um planeta qualquer, pois nela existem centenas, milhares e milhões de exemplares iguais àqueles encontrados nos outros visitados por ele (reis, geógrafos, negociantes, beberrões e vaidosos), ou seja, “pessoas grandes”, como denomina nosso pequeno amigo. A Terra seria uma espécie de concentração de todos aqueles tipos aos quais a obra faz sua crítica.

Quando o Pequeno Príncipe chega ao solo terrestre, encontra uma serpente, com quem conversa. Em meio ao diálogo, o principezinho diz que se sente um pouco só no deserto. A serpente responde dizendo que entre os homens também é possível sentir-se só. Essa crítica é universal, pois em todos os lugares do mundo é possível sentir solidão mesmo entre centenas de pessoas, pois os seres humanos são, em geral, cada vez mais individualistas.

Depois, o Pequeno Príncipe encontra uma flor de três pétalas. Ele pergunta pelos homens e ela diz que um dia vira passar uma caravana, mas que no momento não sabe deles, pois nunca se pode saber onde eles estão. Segundo ela, o vento os leva; eles não têm raízes, porque não gostam delas. A resposta da flor também apresenta um perfil do homem universal, que geralmente é confuso e não sabe para onde deseja ir. Vive, respira, trabalha, mas não sabe em prol de quê.

Em seguida o príncipe encontra uma grande montanha, a qual ele escala. Pensa que do alto enxergará os homens, mas isso não acontece. Começa, então, a chamar por eles. Ouve apenas o eco, que lhe responde a mesma coisa que diz. O principezinho acha engraçado e critica a falta de imaginação dos homens, porque apenas repetem o que já fora dito. O que está nas entrelinhas, nessa parte do texto, é que os homens são vazios, sem personalidade e apenas repetem os atos dos outros. Isso é universal, pois há pessoas com esse tipo de comportamento em todos os lugares do planeta.

Mais tarde, o Pequeno Príncipe encontra a grande personagem da obra: a raposa. Ela faz vários comentários sobre os homens dizendo, por exemplo, que eles já se esqueceram o que é um ritual, que é aquilo que faz um dia ser diferente do outro, ou então que cativar é algo também quase sempre esquecido, e que significa criar laços. Os homens, em geral e em todo o mundo, vivem apressados e se esquecem das pequenas coisas da vida, como ter um ritual para realizar qualquer tipo de atividade, ou então não desejam perder tempo conquistando a amizade e o carinho de alguém.

A raposa é quem ensina ao principezinho a amar um ser de forma única e particular. Ela lhe passa as grandes mensagens da obra, entre elas a principal, que ela denomina como o seu segredo: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos” (p. 72). Essa lição serve para qualquer pessoa, em qualquer local. É totalmente verdadeira, pois as aparências não nos mostram o que há no interior de alguém, o que uma pessoa verdadeiramente é. Em qualquer lugar do mundo, só poderemos conhecer alguém de verdade se estivermos desprovidos de preconceitos e visões estereotipadas.

Após despedir-se da raposa, o Pequeno Príncipe segue viagem e encontra um manobreiro. Ele diz que seu trabalho consiste em separar os passageiros dos trens e despachar os trens que os carregam. Quando o principezinho pergunta sobre a pressa e o destino das pessoas que estão seguindo viagem, o manobreiro responde dizendo que nem elas sabem seus destinos. Estão sempre com pressa e insatisfeitas com os lugares onde estão, mas não sabem para onde desejam ir. Ainda diz que as únicas que estão felizes e sabem o que procuram são as crianças. Essa mensagem também pode ser considerada como universal, já que esse é um comportamento do homem em qualquer lugar, não importando a sua cultura. Em geral, os seres humanos nunca estão satisfeitos com o que têm e com o que são. Buscam evoluir, o que é louvável quando se sabe aonde se deseja chegar, mas que é um grande problema quando apenas se deseja melhorar sem saber o objetivo dessas mudanças.

Depois de ter conversado com o manobreiro, o Pequeno Príncipe encontra um vendedor que comercializa pílulas especiais que saciam a sede. Este, quando questionado, responde que suas pílulas geram uma grande economia de tempo. As pessoas que fizessem uso do medicamento ganhariam até 53 minutos por semana. Com esse tempo, poderiam fazer o que quisessem. Os homens, em todo o mundo, correm desesperadamente atrás do tempo perdido. Lamentam-se pelo tempo, que passa rápido demais, fazendo com que a vida, consequentemente, também passe depressa. A contradição está em saber que a maioria das pessoas não aproveita seu tempo para dedicar-se às coisas que realmente importam.

Mais tarde, o principezinho encontra um aviador que havia sofrido um acidente no deserto. O aviador, conforme já mencionado, é um homem um tanto frustrado por ter sido desencorajado, na infância, a desenhar. Sentia-se inconformado com a insensibilidade dos adultos. Cresceu com essa angústia dentro de si, mas acabou se tornando, mesmo que forçadamente, “gente grande” como os outros adultos, e perdeu um pouco do encantamento, situação que se reverte após ser cativado pelo Pequeno Príncipe, que lhe ensina a mesma lição ensinada a ele pela raposa. O aviador representa grande parte dos homens em todo o mundo, aqueles que, ao se tornarem adultos, enrijecem seu espírito e seus pensamentos, passando a desacreditar nos seus sonhos de infância.

Cada habitante dos planetas visitados pelo Pequeno Príncipe, e até mesmo aqueles que ele encontra na Terra, representam um tipo de pessoa, e todos são vistos com olhar crítico sobre como a maioria dos adultos veem as coisas, como pensam e agem. Esses tipos de pessoas existem em qualquer lugar do mundo, pois a essência do ser humano é a mesma, não importando de qual lugar ele é e em qual cultura está inserido. Os sentimentos de amor e de amizade que aparecem ao longo da história também são considerados como temas comuns a todos, e por esses aspectos, a obra O Pequeno Príncipe pode ser chamada de universal.

Ensaio apresentado na disciplina Literatura Universal - Curso de Letras - Centro Universitário La Salle - Canoas - RS - 2008/2



Ilustrações de www.rvbar.wordpress.com

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Promoção no Twitter - HP & Percy Jackson














Gosta de Harry Potter? E de Percy Jackson?
Gostaria de concorrer a um dos exemplares  dessas maravilhosas sagas?
Se a resposta for sim, participe da promoção no twitter, basta seguir os
perfis  @Literatuitando e @DarkWriterBR , retuitar as mensagens promocionais
que contenham esse link http://migre.me/3GFFA e torcer para ser o vencedor!
O vencedor poderá escolher qualquer 'um' dos livros de 'uma' dessas incríveis sagas.
O sorteio será feito pelo site sorteie.me  no dia 31 de Janeiro e o link do mesmo, com 
o nome do vencedor será postado no twitter @Literatuitando para todos os seguidores.
Participem. E Boa Sorte!

Promoção encerrada.


A vencedora foi @deniseayres - confiram o resultado em http://sorteie.me/1CWq1c

Dia 7 começamos outra. Boa sorte.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Definições I Texto de Adriana Falcão em parceria com Mário Prata


Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Preocupação é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.

Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Ansiedade é quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente mas, geralmente, não podia.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Paixão é quando apesar da palavra “perigo” o desejo chega e entra.
Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. 
Não... Amor é um exagero... também não. 
Um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?


Talvez porque não tenha sentido, talvez porque não tenha explicação, 
Esse negócio de amor, não sei explicar.


(Mário Prata/Adriana Falcão)



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Coração de Criança




Todo mundo carrega dentro de si uma criança.

E todo mundo aprende a reprimi-la para ser adulto.

Crescemos e "temos" que ser sérios.

Quantas vezes você já não ouviu alguém dizer: "deixe de criancice!"?

E desde quando precisamos deixar de ser crianças?


Ria de você mesmo, seja "ridículo",

brinque na chuva, de fazer castelos na areia, de fazer castelos no ar...

sonhe, faça bagunça no meio da rua, cante na hora que der vontade,

converse com você mesmo como se tivesse conversando com um amiguinho,

assista desenho animado e veja a sua vida
como se ela fosse um desenho animado,
brinque com uma criança... como uma criança...


Fique feliz simplesmente por ficar,

sorria e ria sem motivo,

ria de você, dos seus dramas, do ridículo das situações...


E acredite na pureza do ser humano...

na pureza de criança que talvez esteja escondida,

mas que existe em cada um de nós.


Para alguns você vai parecer louco, bobo ou infantil...

mostre a língua para esses "alguns" e diga,

como uma criança: "sou bobo mas sou feliz!"


Esses "alguns" com certeza têm uma criança maluquinha,

doida pra fazer bagunça também.


A vida já é muito complicada para vivermos sérios e carrancudos.

E isso tudo não é deixar de viver com seriedade...

é viver com a leveza de uma criança

e obrigações de adulto.


Fica muito mais fácil viver assim.

Com um coração de criança. Sempre.

















(Autor Desconhecido)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Eu sei, mas não devia | Marina Colasanti

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Marina Colasanti


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Desejos | Carlos Drummond de Andrade


Desejo a você
Fruto do mato 
Cheiro de jardim 
Namoro no portão 
Domingo sem chuva 
Segunda sem mau humor 
Sábado com seu amor 
Filme do Carlitos 
Chope com amigos 
Crônica de Rubem Braga 
Viver sem inimigos 
Filme antigo na TV 
Ter uma pessoa especial 
E que ela goste de você 
Música de Tom com letra de Chico 
Frango caipira em pensão do interior 
Ouvir uma palavra amável 
Ter uma surpresa agradável 
Ver a Banda passar 
Noite de lua Cheia 
Rever uma velha amizade 
Ter fé em Deus 
Não Ter que ouvir a palavra não 
Nem nunca, nem jamais e adeus. 
Rir como criança 
Ouvir canto de passarinho 
Sarar de resfriado 
Escrever um poema de Amor 
Que nunca será rasgado 
Formar um par ideal 
Tomar banho de cachoeira 
Pegar um bronzeado legal 
Aprender um nova canção 
Esperar alguém na estação 
Queijo com goiabada 
Pôr-do-Sol na roça 
Uma festa 
Um violão 
Uma seresta 
Recordar um amor antigo 
Ter um ombro sempre amigo 
Bater palmas de alegria 
Uma tarde amena 
Calçar um velho chinelo 
Sentar numa velha poltrona 
Tocar violão para alguém 
Ouvir a chuva no telhado 
Vinho branco 
Bolero de Ravel 
E muito carinho meu.


 Carlos Drummond de Andrade



Tudo são maneiras de ver




Onde você vê um obstáculo,
alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.
Onde você vê um motivo pra se irritar,
Alguém vê a tragédia total
E o outro vê uma prova para sua paciência.
Onde você vê a morte,
Alguém vê o fim
E o outro vê o começo de uma nova etapa...
Onde você vê a fortuna,
Alguém vê a riqueza material
E o outro pode encontrar por trás de tudo, 
a dor e a miséria total.
Onde você vê a teimosia,
Alguém vê a ignorância,
Um outro compreende as limitações do companheiro,
percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo.
E que é inútil querer apressar o passo do outro,
a não ser que ele deseje isso.
Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar.
"Porque eu sou do tamanho do que vejo.
E não do tamanho da minha altura."






domingo, 2 de janeiro de 2011

Borboletas



Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, 
o  risco de se decepcionar é grande.

As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas,

assim como não estamos aqui, para satisfazer as dela.
Temos que nos bastar...  nos bastar sempre, e quando procuramos estar com

alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos,
porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.
As pessoas não se precisam, elas se completam ... não por serem metades,
mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.
Com o tempo, você vai percebendo que, para ser feliz com a outra pessoa,
você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela.
Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não
quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou mulher de sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, principalmente a gostar de
quem gosta de você.
O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas
venham até você.
No final das contas, você não vai achar quem você está procurando, mas quem
estava procurando por você"





PS: Apesar de ser frequentemente atribuído a Mario Quintana, a verdadeira autoria do texto é desconhecida.
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